Aconteceu em Woodstock e pode acontecer com você!

Quem já viu o filme “Aconteceu em Woodstock (Taking Woodstock)” aí levanta a mão!! O filme é de 2009, produzido nos EUA, dirigido por Ang Lee (dirigiu também “Razão e Sensibilidade” – baseado no romance de Jane Austen – e “Brokeback Mountain”).

Escolhi falar do filme hoje por alguns motivos: o primeiro deles é que no primeiro dia da minha aula com os meninos que agora estão no 1º módulo, eu pedi a eles que escrevessem qual evento gostariam de ter organizado e... voilá, para minha surpresa dois garotos – não me lembro os nomes agora – apontaram o Woodstock, apesar da justificativa ficar mais na afinidade musical do que as características do evento em si.

Por outro lado, o filme destaca algo que é de fundamental importância para o sucesso do evento e que trabalhei com os meninos do 2º módulo esta semana: a parceria com a comunidade anfitriã.

Vimos que para um evento atingir seus objetivos com sucesso, ele deve se preocupar em estabelecer quais são seus principais parceiros, e analisar os objetivos desses principais participantes, que algumas vezes poderão ser coincidentes ou conflitantes.

Diferentemente do que possa aparentar à primeira vista os parceiros do evento não se resumem aos participantes do evento; os participantes são apenas um tipo de parceiro, e ainda existem outros como os patrocinadores, a mídia, a equipe que trabalha na organização do evento e... a comunidade anfitriã. Os eventos, de modo geral, produzem grandes impactos na comunidade que será sede, especialmente os eventos de grande impacto, que possuem grande infraestrutura e número de público.

Quer um exemplo? Para ser a sede das Olímpiadas de 2016, o Rio de Janeiro já vem sofrendo algumas alterações, em termos de obras, unidades pacificadoras em favelas (deveremos pensar quais delas serão contempladas, parece que somente aquelas para o “turista ver”).  

No texto de Kátia Rubio, “Os Jogos Olímpicos e a transformação das cidades: os custos sociais de um megaevento” a autora nos lembra que há vários motivos para que um evento olímpico gere conflitos urbanos como o custo financeiro e humano das obras necessárias para um evento que durará poucos dias. A autora chama atenção também para o fato de que as próprias características da organização do evento – cujos prazos são apertados perante o número de tarefas a se executar – pode muitas vezes conduzir para uma organização centralizadora e autoritária, ou seja, com pouca participação da população nos instrumentos de decisão, o que pode gerar desconfiança da população, como aconteceu em México (1968); “naquela ocasião foi realizada uma manifestação popular contra os gastos excessivos e a corrupção no gerenciamento das verbas para a realização dos Jogos. O protesto foi duramente reprimido resultando em um número não confirmado de mortes que passava de uma centena”.

Mas voltando ao filme, em “Aconteceu em Woodstock”, Elliot Tiber (interpretado por Demetri Martin) precisa ajudar a recuperar o pequeno hotel da família no interior, já que está falido e prestes a ser confiscado pelo banco. Ele ouve falar no festival Woodstock, mas este irá acontecer na cidade vizinha. Contudo, o festival de música hippie teve sua licença cassada na outra cidade (a população não concordou com o evento) e Elliot decide oferecer a propriedade aos produtores para salvar os negócios da família, sem levar em consideração a dimensão do evento – meio milhão de pessoas aparecem na cidade pequena – e assim Elliot e sua família são hostilizados pela população local por estarem destruindo a cidade. O evento acontece e não sabemos ao certo as implicações para a cidade e para a família de Elliot. O importante aqui é compreendermos a importância da população local para o evento, pois o evento trará conseqüências e impactos à comunidade e esta poderá apoiar ou não o evento e isto será significante para o sucesso do mesmo. Porque, ao final das contas, depois que o evento acabar, quem vai lidar com as conseqüências para o local serão aqueles que nele residem.

Gheysa.