Em sua turnê pelo Brasil em 2011, depois de se apresentar em quatro
capitais, a cantora inglesa fechou a turnê com uma postura trôpega. Mayer
Hawthorne e Janelle Monáe fizeram bons shows de abertura. Amy ofereceu um espetáculo descompromissado e,
pela postura vacilante, a certeza de que é permanentemente um corpo a beira de
despencar.
Amy ofereceu às 30 mil pessoas (segundo a assessoria do evento), com 25
minutos de atraso, um espetáculo mal ajambrado, descompromissado e, pela
postura vacilante, a certeza de que é permanentemente um corpo a beira de
despencar. Ou seja, cumpriu a praxe, enferrujada por dois anos sem subir aos
palcos em que se dedicou basicamente ao uso recreativo de drogas e escândalos
decorrentes do excesso.
Durante pouco mais de uma hora, à frente de uma enorme bandeira do
Brasil que decorava o palco, a cantora desfiou um rol de 17 canções, das quais
tentou cantar 14; deixou duas por conta de Zalon Thompson, um dos seus
performáticos backing vocals; limpou o nariz repetidas vezes, bebericou numa
caneca e massageou os cotovelos aparentando incômodo. Mal se mexeu, sequer
ensaiou passos e manteve os olhos no vazio.
O vozeirão que ganhou meio mundo e rendeu ao disco Back to Black 30 milhões de cópias vendidas sumiu inclusive no
maior hit da cantora, Rehab. Não
estivesse amparada por uma banda competente e cantores afiados, Amy perderia
qualquer concurso de calouros de quermesse interpretando a canção que a tornou
uma estrela da música pop.
A irritação provocada pelo show deu lugar a desespero na saída. Não
havia como ir embora do Anhembi. Um funcionário da CET explicou que os 200
táxis disponíveis já haviam partido. A multidão tomou a avenida Olavo Fontoura e
começou a caminhar em direção à praça Campo de Bagatelle. Pessoas pulavam em
cima de táxis, implorando para serem levadas. Um motorista explicou que um sujeito que aguardava disse: “Eu pago o
dobro”, suplicou o cidadão.
A voz ressurgiu no fim do show quando ela retornou ao palco para cantar
Valerie, música original do grupo The Zutons que gravou no disco do seu
produtor Mark Ronson. Uma lufada do timbre precioso pelo qual se notabilizou
chegou a empolgar o público. Foi só.
Não que tenha faltado apoio do público, muito embora do meio para o fim
a apatia falasse mais alto que os aplausos – mais fortes a cada bebericada. Um
show para ser esquecido. Ou para ser lembrado como um número de comiseração com
o suporte de uma boa banda.
Mayer e Janelle – As apresentações de abertura, a cargo dos americanos
Mayer Hawthorne e Janelle Monáe, expoentes do renascimento da música soul nos
Estados Unidos, serviram para formar plateia.
Um ótimo show que se encaixaria melhor num espaço menor e com uma
plateia menos dispersa. Justificável até, pois a principal estrela da noite se apresentaria
dali a três horas e era só por isso que o público esperava.
É importante
destacar que, no evento:
- · Os dois telões do palco falharam por quase dez minutos durante o show de Amy Winehouse. Ruim para quem estava distante e dependia, sobretudo das imagens para sentir-se próximo da cantora.
- · A área vip do show era desmedida em relação ao tamanho do lugar (Anhembi) em que foi realizado. Avançando pelo menos 30 metros em direção ao fundo, o espaço comprimiu os fãs que não puderam pagar valores que chegaram a 700 reais por um ingresso. Em alguns pontos o som mal chegava. É lastimável o quanto essa prática tem se perpetuado. E pior: cada vez mais vip apenas no nome e no valor da entrada. Tão desconfortável quanto a área comum, o "cercadinho" se tornou um máquina de fazer dinheiro e de enrolar desavisados, que são obrigados a se espremerem do mesmo jeito de quem pagou a metade.
- · Sem mencionar que acabou a cerveja, refrigerante e agua antes do show da Amy e a organização do evento não devolvia o dinheiro de quem comprou fichas, ainda seguranças truculentos tentavam intimidar quem tentou reaver o dinheiro das fichas que aquela altura eram meros papeis sem utilidade. A quantidade de banheiros foi longe do suficiente e a saída do público, tumultuada. A organização foi um desastre e não soube dimensionar as demandas do evento.
Por Manuel Mouzo e Katia Pereira
Alunos do 20 módulo do curso Técnico em Eventos.